LEMBRANÇAS DE UM VELHO MERCADO
I
LEMBRO-ME NÃO É DE AGORA
UM TEMPO FELIZ, UM TEMPO DE OUTRORA
A MENTE NÃO É DE ENGANAR.
AQUI ANDAVAM AUTORIDADES,
CLASSES DA SOCIEDADE,
AO VELHO PÁTIO SAUDAR.
II
AO SOM DA FACA E MACHADO,
CEGO OU QUASE AFIADO,
A FÔICE E ATÉ O FACÃO.
FARTURA DE RÊS EXTENDIDA,
POR TODOS SEMPRE ESCOLHIDA,
EM BAIXO DO VELHO GALPÃO.
III
HOJE SÓ RESTA A LEMBRANÇA,
JÁ MORTA A VELHA ESPERANÇA,
DE TUDO UM DIA MUDAR.
TALVEZ ALGUÉM APAREÇA,
E OUTRA VEZ SE FLOREÇA,
DO VELHO MERCADO VOLTAR.
IV
APENAS O VELHO TAMARINEIRO,
FICOU PRA SER O HERDEIRO,
PRA TODOS PODEREM SE LEMBRAR.
QUE AQUI NUM TEMPO PASSADO,
FOI PALCO GLORIFICADO,
QUE VAI PRA SEMPRE FICAR.
A única lembrança era o tamarineiro centenário, guardava muitas memórias, que não conseguiu sobreviver e também foi destruído.
LEMBRANÇAS DE UM VELHO TAMARINEIRO
NÃO CONSIGO ME ESQUECER,
SINTO NO PEITO DOER,
AQUELE DIA INFELIZ.
EU UM SENHOR JÁ IDOSO,
VELHO, CANSADO, PENOSO,
PENSAR, JAMAIS EU NÃO QUIS.
QUE FOSSE NAQUELE DIA,
TAMANHA ENORME AGONIA,
DENTRO DO PEITO BATER.
UM VELHO E BOM COMPANHEIRO,
VI DESTRUIR POR INTEIRO,
E POR TERRA SE EXTENDER.
POR GOLPES LARGOS, PROFUNDOS,
VI CAIR EM SEGUNDOS,
FOI GRANDE A MINHA AFLIÇÃO.
COM GARRAS MAIS QUE AFIADAS,
A MAQUINA DAVA TRAVADAS,
COM O VELHO MERCADO NO CHÃO.
TESTEMUNHA, FUI O PRIMEIRO,
POR DÉCADAS, FUI COMPANHEIRO,
NÃO DEU PARA ACREDITAR.
QUE MENTES TÃO DESUMANAS,
COM ATITUDES MAIS QUE SACANAS,
AGISSEM ASSIM, SEM PENSAR.
EU, UM VELHO TAMARINEIRO,
AQUI FICO CABREIRO,
SOZINHO E A IMAGINAR.
SEM SONO, FICO ACORDADO,
COM MEDO, VIVO ASSUSTADO,
QUE CHEGUEM PRA ME CORTAR.
